A rotina em uma das principais unidades de atendimento da Covid-19 de Manaus é exaustiva há meses, mas as últimas semanas têm sido ainda mais difíceis com o aumento desenfreado e a complicação dos casos da doença. Na expectativa de melhor atender pacientes com insuficiência respiratória, a médica Bruna Portela foi uma das 74 profissionais de saúde amazonenses treinadas para usar o capacete de respiração assistida Elmo, tecnologia desenvolvida no Ceará. As capacitações foram realizadas por três instrutoras da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), vinculada à Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), que passaram uma semana na capital manauara de forma voluntária.
Entre os dias 1º e 5 de fevereiro foram realizadas dez capacitações com equipes que atuam na linha de frente, entre médicos, enfermeiros e fisioterapeutas, além de engenheiros clínicos. A Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) e a Secretaria Municipal de Saúde de Manaus (Semsa) foram responsáveis pelo apoio logístico e operacional das formações. Ao todo, 65 unidades do Elmo foram doadas pelo Governo do Ceará, por meio da Sesa. Dez unidades de saúde da rede pública do Governo do Amazonas serão beneficiadas com a doação.
“Essa missão cearense foi muito importante, pois significa que nós estamos trabalhando de forma solidária entre a Sesa, através da Escola de Saúde Pública, com a Secretaria da Saúde do Amazonas e toda a rede do Estado, especialmente na capital Manaus. O capacete Elmo pode trazer resultados excelentes a pacientes sob risco de intubação, prevenindo a necessidade de ventiladores mecânicos e leitos de UTI [Unidade de Terapia Intensiva]. O equipamento tem o importante impacto de aliviar a sobrecarga do sistema de saúde de lá”, destaca o idealizador do dispositivo e superintendente da ESP/CE, Marcelo Alcantara.
Resultados
A enfermeira Rebeca Bandeira e as fisioterapeutas Ingrid Sá e Betina Santos foram as responsáveis pelas capacitações do Elmo em Manaus. Elas utilizaram a mesma metodologia desenvolvida nos treinamentos do Ceará, onde mais de 200 profissionais de saúde já foram beneficiados. A instrução contempla conteúdo teórico sobre o uso do dispositivo e os profissionais ainda experienciam o manejo do equipamento, que envolve a montagem, utilização no paciente, desmontagem e desinfecção.
A enfermeira Rebeca Bandeira e as fisioterapeutas Betina Santos e Ingrid Sá participaram de missão voluntária em Manaus para capacitar profissionais de saúde para uso do capacete Elmo
“Estamos com expectativa de ótimas evoluções de pacientes, tendo em vista que, no treinamento, a gente pode observar que o capacete é mais confortável. Além da maior possibilidade de recuperação, ele (o paciente) vai ficar mais livre, poderá beber água e se comunicar”, diz a fisioterapeuta Jéssica Guerini, que participou da primeira turma treinada no Amazonas.
A partir de depoimentos como esse, as instrutoras cearenses relatam ter a sensação de dever cumprido. “Percebemos que, apesar do cansaço e ritmo intenso de trabalho por conta da explosão de casos em Manaus, os profissionais de saúde têm esperança de que vão conseguir mudar a realidade com a utilização do Elmo. Eles já visualizam a aplicabilidade do dispositivo e quais pacientes devem passar pelo tratamento”, afirma Rebeca Bandeira.
Para a missão, que superou o dobro da meta inicial de capacitar 30 profissionais, as instrutoras foram imunizadas com a primeira dose da vacina contra Covid-19. De volta a Fortaleza desde sábado, 6, elas permanecem em isolamento por 14 dias num hotel. A quarentena é recomendada para viajantes de algumas regiões brasileiras com transmissão de novas variantes de SARS-CoV-2, conforme nota de alerta publicada pela Sesa.
Inovação em saúde
O Elmo é um mecanismo de suporte respiratório não invasivo que pode reduzir em 60% a necessidade de intubação e internação em leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), mas é necessário uso adequado para atingir bons resultados clínicos. “O Elmo é voltado para casos de insuficiência respiratória por queda do oxigênio. Por exemplo, em quadros de pneumonia causada pela Covid-19, os pacientes têm uma queda de saturação, no oxímetro. Quando abaixo de 90%, a redução preocupa bastante e, muitas vezes, mesmo com o catéter de oxigênio num hospital, numa enfermaria, numa UPA ou numa emergência, isso pode não ser o suficiente para restaurar a oxigenação de maneira segura. Nestes casos, é indicado o uso de pressão positiva que o Elmo oferece. Pressão positiva é a que fica dentro do capacete acima da pressão atmosférica”, explica Marcelo Alcantara.
Uma das dez turmas de profissionais de saúde treinadas. Foram capacitados médicos, enfermeiros e fisioterapeutas, além de engenheiros clínicos
A preparação dos profissionais de saúde que vão utilizar o dispositivo também é essencial. Por isso, os treinamentos desenvolvidos pela ESP/CE são requisitos para que o mecanismo possa ser uma alternativa de tratamento nas unidades. “O Elmo é uma tecnologia nova que precisa de capacitação para ser utilizado de forma correta e segura”, frisa Betina Santos.
Projeto público-privado
A força-tarefa do projeto Elmo ocorre por meio de parceria estabelecida pelo Governo do Ceará, por meio da Sesa, ESP/CE e Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai/Ceará), Universidade Federal do Ceará (UFC) e Universidade de Fortaleza (Unifor), com o apoio do Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH) e Esmaltec.
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